A Câmara dos Deputados vai decidir no domingo se aprova o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff em uma votação que poderia acelerar o fim de 13 anos do governo de esquerda do Partido dos Trabalhadores.
A crise política, que surge em meio a pior recessão do Brasil desde a década de 1930, dividiu profundamente o país e provocou uma briga entre Rousseff e o vice-presidente Michel Temer, que assume o cargo caso ela seja afastada.
Em uma rodada frenética de acordos última hora, Rousseff parecia recuperar os votos de alguns parlamentares hesitantes, mas pesquisas mostraram que faltaria à presidente ainda um terço de votos ou abstenções dentre os 513 assentos da Câmara para conseguir evitar o prosseguimento do julgamento no Senado.
O carismático antecessor de Dilma, Luiz Inácio Lula da Silva, tem liderado as negociações para mantê-la no poder. No sábado, Lula convocou governadores de vários estados para pressionar deputados na Câmara, construindo um momento político novamente favorável à Dilma.
"A participação dos governadores tem sido decisiva", disse Paulo Teixeira, um dos líderes do Partido dos Trabalhadores na Câmara.
Na manhã do domingo, manifestantes pró e anti-impeachment reuniram-se para se encaminhar à esplanada na frente do Congresso. Lá, um muro de 2 metros de altura e 1 quilômetro de extensão foi erguido para separar ambos os lados, um símbolo da forte divisão política no seio de uma das sociedades mais desiguais do mundo.
Ônibus transportando alguns dos milhares de policiais enviados à capital chegavam à Brasília, e a força policial já assumia seus postos. Outros protestos são esperados em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, com centenas de milhares de manifestantes de ambos os lados tomando as ruas antes da votação às 14:00. A previsão é de que a votação de domingo avance noite à dentro.
Pesquisas indicam que mais de 60% dos 200 milhões de brasileiros apoiam o impeachment de Rousseff, cujos aliados mais próximos tiveram suas reputações manchadas por um vasto escândalo de corrupção na companhia petrolífera estatal Petrobras.
O Partido dos Trabalhadores, no entanto, ainda conta com forte apoio de milhões de trabalhadores brasileiros, que atribuem a saída de suas famílias da pobreza durante a última década aos programas sociais do governo.
No estacionamento do estádio de Brasília, alguns desses manifestantes agitavam bandeiras vermelhas e soltavam fogos de artifício enquanto se preparavam para marchar até o Congresso.
"Não vai ter golpe, vai ter luta!", gritava a multidão, referindo-se ao discurso de Rousseff de que o pedido de impeachment contra ela não teria base legal e seria um golpe de Estado.
GOVERNO PARALISADO
O impeachment paralisou as atividades em Brasília quatro meses antes dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro e durante uma epidemia do vírus Zika, associado a defeitos congênitos em recém-nascidos, que mobiliza todo o país.
Embora Rousseff não tenha sido pessoalmente acusada de corrupção, muitos dos legisladores que decidirão seu destino foram.
"Congresso em Foco", uma organização jornalística com destaque em Brasília, diz que mais de 300 dos deputados federais que votarão no domingo - bem mais da metade da Câmara - estão sob investigação por corrupção, fraudes ou crimes eleitorais.
Se Rousseff perder na votação de domingo, o Senado deverá decidir se existem motivos legais para julgar o caso contra ela, uma decisão esperada para o início de maio.
Caso o Senado concorde em fazê-lo, Dilma seria afastada do cargo e Temer assumiria automaticamente.
O mercado financeiro do Brasil experimentou forte recuperação face à expectativa de que o impeachment de Rousseff desse lugar a uma administração mais favorável às empresas sob a batuta de Temer. Fontes próximas ao vice-presidente disseram à Reuters que Temer estaria considerando convidar um executivo sênior da Goldman Sachs no Brasil para um cargo econômico importante.
Quem quer que seja que governará o país nos próximos meses herdará um ambiente político tóxico, um Congresso dividido, uma taxa de desemprego crescente e uma contração prevista de 4% este ano na 9a maior economia do mundo.