Na quinta-feira (dia 21), o chefe do BCE defendeu de forma contundente a política da instituição de baratear dinheiro contra críticas afiadas da Alemanha. A líder do país entrou em um debate que tem dividido o banco central da zona do euro e sua maior economia.
Mario Draghi disse que a política de emitir dinheiro e manter no mínimo os custos dos empréstimos do BCE está funcionando. Acrescentou que as taxas de juros ficariam nos atuais mínimos históricos por um longo tempo.
Enfatizando o direito do banco à independência frente a interferências políticas, Draghi também pediu aos governos da zona do euro ajuda para a economia cambaleante da região por meio de reformas econômicas de bases mais sólidas.
"É legítimo que pessoas na Alemanha discutam o fato de que as taxas de juros já tenham sido muito maiores", disse a chanceler alemã Angela Merkel, reconhecendo que as preocupações dos poupadores eram genuínas.
Em um discurso anterior, Draghi tinha procurado acalmar os temores alemães, descreditando rumores de "dinheiro jogado de helicópteros" ou ideias semelhantes.
Mas ele argumentou haver poucas alternativas à política de emissão de dinheiro e de baixas taxas de juros em um mundo em que as perspectivas econômicas estão sombrias.
"Certo tipo de críticas pode ser visto ... como um risco à independência do BCE", disse, acrescentando que isso iria atrasar possíveis investimentos .
"O resultado ... é que irá demorar mais tempo ... para produzir os resultados que queremos", afirmou, argumentando que a demora acarretaria em mais ações do BCE.
O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schaeuble, chegou a afirmar que a política do BCE é parcialmente culpada pela ascensão do movimento anti-imigração de direita, Alternativa para a Alemanha (AFD).
"Se um presidente não-italiano levaria a cabo políticas diferentes?", disse Draghi. "Nossas políticas são semelhantes às que estão sendo empregadas em outras partes do mundo ", afirmou, referindo-se a políticas globais de taxas de juro baixas. Pontuou ainda que os governadores do BCE advindos de 19 países do bloco apoiam a medida.
Paciência.
Draghi adotou um tom mais cauteloso se comparado a uma conferência de imprensa anterior, embora tenha reiterado sua promessa de agir se houvesse uma virada negativa na economia.
A inflação é um barômetro da saúde de uma economia e é usado como um parâmetro para o sucesso para política emissionista do BCE.
Quando chega a níveis abaixo de zero, investidores costumam contar com a ação do BCE para fazer frente aos desafios. O pedido de paciência de Draghi, todavia, pode indicar que o banco não terá pressa em suas respostas.
Alguns economistas, no entanto, adotaram um tom confiante. "O BCE ainda está em estado de alerta e está preparado para implementar mais estímulos caso a recuperação falhe", disse Carsten Brzeski, economista do ING.
O valor do euro, que costuma oscilar segundo a expectativa de investidores do BCE esperar, não se moveu após suas observações.
Governadores do BCE decidiram manter o custo dos empréstimos para os bancos em zero, enquanto continuará a cobrar 0,4% para o manter o dinheiro no BCE.
Apesar da subida no preço do petróleo, os investidores ainda estão céticos quanto à probabilidade de a inflação dos preços na zona do euro se recuperar no longo prazo.